Matéria publicada na Folha Espírita em março de 2005
Os filmes Mar Adentro e Menina de Ouro trouxeram de novo à baila a questão da Eutanásia – ato de apressar, sem dor ou sofrimento, a morte de um doente incurável. Embora ilegal, 16 médicos entrevistados pela Folha de S.Paulo (20/2/05) disseram que a eutanásia é prática habitual em UTIs do País. Para eles, é uma forma de abreviar o sofrimento do doente e de sua família, além de satisfazer a aspectos práticos como o de desocupar leitos para os que têm mais chances de sobreviver, ou o de baratear os altos custos da UTI, uma preocupação obsessiva da medicina privada. Segundo a mesma reportagem, os Conselhos Regionais de Medicina inclinam-se também a aceitá-la.
Nos hospitais é comum ver-se a aplicação do coquetel sedativo na veia do paciente terminal. Quando a dosagem do remédio não faz mais efeito, o médico aumenta-a, gradativamente, apressando, com isso, a sua morte, porque a sedação é tóxica. Quer desligando os aparelhos, quer aumentando a sedação, a intervenção do médico é decisiva e tem apressado a morte de muitos pacientes.
Não é isto um terrível contra-senso? O médico não jurou lutar sempre pela vida? Débora Diniz, professora de Bioética da Universidade de Brasília, disse ao repórter que não é bem assim. Para ela, a eutanásia é um direito individual, de modo que, embora haja o conflito ético, essa atitude pode ser vista como um “gesto de solidariedade do médico” em relação ao seu paciente. Infelizmente, esta é a tendência predominante no mundo de hoje, a da bioética utilitarista, que dá ao paciente autonomia para decidir quanto ao momento da morte.
Com base nesse modelo, a Holanda e a Bélgica legalizaram a eutanásia e o Estado do Oregon, nos EUA, aprovou lei que permite, desde 1994, o suicídio medicamente assistido, em que o médico ajuda o doente a morrer. Vivemos o apogeu da era materialista e hedonista na face da Terra. O corpo é visto como uma coisa que se pode descartar, quando não mais apresenta a propalada “qualidade de vida”, comumente associada, pelos materialistas, à juventude, aos gozos da liberdade e do movimento, e do pleno funcionamento das faculdades mentais. Como se o ser humano fosse um boneco que não devesse passar por outros tipos de experiências, como a da decrepitude física e mental.
Para o médico espírita, porém, o paradigma é outro. O modelo personalista espírita considera a vida um direito natural, inalienável. Quanto mais estuda os fenômenos da natureza, mais convence-se de que a vida resulta de um primor de planejamento, e mais se curva ante o poder do Grande Programador – Deus, a Sublime Consciência do Universo.
Com base na fé raciocinada, o médico espírita tem certeza de que a eutanásia é um gesto de insubordinação, de rebeldia, da criatura perante o seu Criador, e que, no devido tempo, responderá por ela, assim como os demais envolvidos. Que Jesus nos livre de semelhante crime em nossa Constituição.
Dra. Marlene Nobre (presidente da AME Brasil e AME Internacional), Médica ginecologista