POR QUE MEDICINA E ESPIRITUALIDADE?
Revista Cultura Espírita – Rio de Janeiro – FEV/2012
http://www.portaliceb.org.br/pdf/RCE-fev2012.pdf
Desde a sua fundação, em junho de 1995, a AMEBrasil vem divulgando o paradigma médico-espírita, sua visão holística da saúde, que considera todos os processos mórbidos como sendo essencialmente mentais, comandados pelo Espírito. Nessa visão integral, compete à alma metabolizar e integrar todos os fenômenos – físicos, biológicos, sociais, culturais e espirituais – que a infl uenciam.
Mas, além disso, tem procurado também dialogar com colegas do Brasil e do exterior, engajados na mesma causa de Saúde e Espiritualidade, porque entendemos que o médico deve dar exemplo de verdadeiro ecumenismo,
respeitando as crenças e descrenças de seus pacientes, para assisti-los da maneira mais ampla e integral possível.
Esta compreensão não pode ser diferente em relação às crenças e descrenças de seus próprios colegas. E esta atitude é mais bem compreendida, nos dias de hoje, no âmbito deste movimento abrangente que propõe uma nova medicina para um novo milênio.
Lamentavelmente, nos últimos quatro séculos, houve um aprofundamento do fosso entre ciência e religião. Ante a atitude religiosa de incompreensão, a maioria das comunidades científicas preferiu demarcar, nitidamente, seu próprio território, distanciando-o dos assuntos vinculados à fé, comumente considerados incompatíveis com os objetivos da ciência. Infelizmente, porém, ao elegerem o paradigma materialista, reducionista como seu pilar de sustentação, alguns cientistas têm se revelado, em determinadas questões,
tão dogmáticos e sectários quanto os religiosos.
É lamentável que esta separação entre fé e razão ainda persista porque é extremamente danosa ao progresso humano. Com esse descompasso, há o predomínio do egoísmo e do orgulho, o que favorece o recrudescimento do hedonismo, da violência, da ambição sem freios, dos vícios, da intolerância religiosa e científi ca, das grandes desigualdades e calamidades sociais. Felizmente, porém, já se constata que, nas quatro últimas décadas, ao lado desta corrente majoritária, cresce o número de “minorias criativas”, conforme previu o historiador Arnold Toynbee, que pensam diferentemente do modelo predominante, e que oferecem novos rumos ao progresso humano.
Estão na base dessa nova visão do ser e do mundo as mudanças conceituais que revolucionaram a Física, desde as primeiras décadas do século XX. Com o advento da Teoria da Relatividade e da Física Quântica, surgiram novos e revolucionários conceitos sobre matéria e energia, que já deveriam ter mudado o paradigma materialista dos cientistas.
Constatamos, porém, que os militantes das ciências em geral ainda persistem na defesa do paradigma antigo, e nada admitem além da matéria física. É por isso que se pratica ainda hoje tão somente a Medicina do corpo.
Para as “minorias criativas”, porém, esses novos conceitos permitiram enxergar a consciência ou alma como individualidade fora da matéria. Algo imponderável, imaterial, que dá vida e finalidade à matéria. Com isso, a cada dia, mais pessoas enxergam o ser humano de forma integral, corpo e espírito, conectado a uma imensa teia invisível, que engloba micro e macrocosmo. Na área da saúde, essas “minorias” têm trabalhado incansavelmente visando à aliança definitiva entre fé e razão.
Esse movimento novo vem ocorrendo, particularmente, na última década, com a introdução do fator Espiritualidade nos estudos, pesquisas, e na própria práxis médica. O termo Espiritualidade tem sido empregado com a conotação que lhe deu William James, o de sentimento mais elevado, mais nobre, que une a criatura ao Criador. Assim utilizam-no médicos e profi ssionais da saúde das mais diversas confi ssões religiosas ou mesmo os que simplesmente creem no Ser Supremo, sem
os liames de uma religião formal.
No bojo dessa transformação, há, hoje, nos Estados Unidos, cursos obrigatórios ou eletivos sobre religião, espiritualidade e medicina, em cerca de dois terços das escolas médicas. E esses cursos também já são dados no Brasil em diversas universidades.
Com seus livros, pesquisas, cursos e seminários o prof. Harold Koenig muito tem contribuído para expandir esse movimento renovador. Foi por isso que o trouxemos ao Brasil, para participar dos congressos nacionais da AME-Brasil, em 2003 e 2005. E lançamos também o seu livro, Espiritualidade no cuidado com o paciente, que tanto tem contribuído para a divulgação do novo paradigma.
Assim, juntamos os singelos esforços da AME-Brasil aos de muitos expoentes da construção da espiritualidade na saúde, que militam nos Estados Unidos. Esperamos, sinceramente, multiplicar nossos esforços para construirmos juntos um mundo melhor, onde estejam totalmente integrados Fé e Razão, Amor e Sabedoria.
Marlene Nobre (SP) é Presidente da Associação Médico-
-Espírita do Brasil/AME-Brasil e da AME Internacional