19 de agosto de 2020
Caros presidentes das associações médicos-espíritas e irmãos de ideal,
A Diretoria da AME-BRASIL, diante das repercussões dos colegas à nota divulgada sobre o caso da menina de 10 anos, sente-se obrigada a apresentar os esclarecimentos necessários aos seus associados e irmãos de ideal.
Leia na íntegra aqui.
Caros presidentes das associações médicos-espíritas e irmãos de ideal,
A Diretoria da AME-BRASIL, diante das repercussões dos colegas à nota divulgada sobre o caso da menina de 10 anos, sente-se obrigada a apresentar os esclarecimentos necessários aos seus associados e irmãos de ideal.
Reconhecemos, após as críticas e alertas recebidos dos colegas, a fragilidade do texto quanto à possibilidade de interpretações dúbias dos leitores, pois na tentativa de depurar o tamanho do texto, certamente fomos mais lacônicos do que deveríamos. Como representantes do grupo, por isso, pedimos desculpas se não se sentiram representados.
Entretanto, foram feitas interpretações que, sinceramente, não conseguimos encontrar no texto, como a de uma possível condenação da criança como criminosa, o que em momento algum ocorreu.
No entanto, gostaríamos de levantar alguns pontos fundamentais para uma reflexão:
– seria fundamentalismo ter como referência doutrinária a abordagem dos espíritos da Codificação, ao serem claros quando afirmam que a única condição aceita para o aborto é o risco de morte da gestante? Era este o quadro clínico da menina quando examinada? Houve um consenso clínico de que ela corria o risco iminente de morte, situação que indicaria o aborto?
– do ponto de vista médico, a criança precisava do aborto ou de amparo psicológico e social adequado, além de atendimento médico especializado?
– Existem evidências clínicas de que o abortamento é capaz de oferecer alívio psíquico à vítimas de abuso sexual?
– existe consenso clínico de que o abortamento é mais seguro e menos perigoso de que um parto planejado e realizado no momento certo para a gestante e o feto, mesmo em crianças? (É importante frisar que, o que ocorreu, foi um parto prematuro antecedido de morte fetal, em uma gestação com dados clínicos que, na atualidade, viabilizaria a vida extraútero).
– há trabalhos científicos que comprovem que o amparo psicológico e social após o aborto seria mais eficiente do que se ele acontecer durante a gestação e antes de um parto planejado?
O aborto não tira da vítima de abuso a maior dor que ela carrega consigo, que é a da violência a qual ela foi submetida. E, certamente, o alívio real só acontecerá quando for possível o perdão.
Será que uma abordagem médica e espírita, nos permite uma visão unilateral, sem avaliar a realidade do reencarnante e as suas necessidades? Será que nos esquecemos de que a vítima do aborto é um ser frágil e sem capacidade de defesa neste mundo materialista e imediatista?
Será que a retirada do feto do útero retira a marca da dor e encerra os desajustes advindos da violência?
Precisamos ter cuidado com as artimanhas dos que defendem o aborto. Abrir espaço para a sua realização, em especial, quando amparada por uma ordem judicial, é criar jurisprudência para o alastramento dos pedidos e dos abortamentos.
Aos que duvidaram ou mal interpretaram nossas reais intenções ao divulgar uma nota como aquela, nós sugerimos a leitura dos excelentes livros A vida contra o aborto e Clamor da Vida – Reflexões contra o aborto intencional, escritos por nossa Marlene Nobre e editados pela FE, base científica e doutrinária da interpretação do tema para o ideal médico-espirita, por parte desta diretoria.
Se o que os colegas esperavam da direção era um acatamento da atitude do aborto ocorrido, não conseguimos do ponto de vista médico e espírita acatar tal postura e embora respeitemos os que se posicionaram de forma diferente, acreditamos que existem opções clínicas e psicoterapêuticas mais éticas e eficazes, compatíveis com a lição de amor que o Mestre nos exemplificou para atuar em situações como essa.
E ao lembrar-nos de Jesus, temos a certeza de que, em sua grandeza espiritual, ele nos concitaria ainda a envolver em nossas preces os irmãos doentes que cometem a torpeza do abuso sexual e aqueles que realizam tais procedimentos.
Estamos à disposição para conversar e ampliar a discussão dentro de um clima de respeito e fraternidade. Quanto aos ataques grosseiros e desrespeitosos, deixamos a energia infeliz na responsabilidade dos que assim se manifestaram. Se fomos desrespeitosos com alguém, pedimos desculpas e que nos perdoem a incapacidade, muitas vezes, de sabermos nos expressar de melhor forma.
Que Deus nos abençoe!
Diretoria da AME-BRASIL