A médica Marlene Nobre, presidente da Associação Médico-Espírita do Brasil, abriu a programação de palestras do terceiro dia do 2° Congresso Espírita do DF, presenteando o público com o tema “A defesa da vida”. Discorrendo sobre assuntos importantes sobre o direito à vida humana, Marlene mostrou clareza na exposição, conhecimento e, acima de tudo, respeito por esse bem que, segundo ela mesma diz, é “um bem indisponível por ser uma doação de Deus”.
Muitas são as razões humanas para tentar justificar ações contrárias à vida, como, por exemplo, o aborto, um dos temas mais polêmicos nesse sentido. Em sua palestra, Marlene Nobre apresentou as razões divinas, por meio de informações científicas e do Espiritismo, para se proteger a vida. “A vida começa na concepção, momento em que o espermatozoide fecunda o óvulo, gerando o zigoto, que é o clamor da vida” como informa a questão 344 de O Livro dos Espíritos, sobre o início da vida humana.
Com a formação do embrião, os laços do Espírito com seu corpo vão se estreitando ao longo da gestação, segundo a Doutrina. Além disso, considerando as descobertas científicas, Marlene revelou diferentes resultados de pesquisas que mostram como o feto, desde seu início, possui uma psique, uma memória. O embrião já possui, mesmo antes da formação de um cérebro, neuropeptídeos que promovem o diálogo com os sistemas nervoso e endócrino. “O embrião contém, em suas células, todo o projeto de um novo ser, mostrando que não pode, assim, ser somente um emaranhado de células”, defende. Citou o exemplo da bebê Kristina, nascida na Suécia, que não aceitava o leite de sua mãe, mas apenas outros leites, inclusive os de outras mães. Tempos depois, o médico responsável pelo estudo do caso, escutou, da mãe da menina, que desde que ela havia sabido de sua gravidez, não queria ter a criança, e teria pensado, inclusive, em praticar o aborto. “A mãe emitiu o sentimento de rejeição, que a criança sentiu. Uma prova da psique do feto”.
Ainda citando o Espiritismo, Marlene destacou aspectos morais que envolvem temas como aborto e fertilização em laboratório. Ela cita a questão 680 de O Livro dos Espíritos, cuja resposta explicita que Deus é justo, só condenando aquele que voluntariamente tornou inútil a sua existência. “Essa resposta é definitiva para nós. Devemos ter essa questão como base para qualquer atitude bioética que tomemos”, destaca a palestrante. Sobre a concepção em laboratório, Marlene conta que, de acordo com os Espíritos, esta questão seria até mais possível, pois não passa pela interferência do perispírito da mãe. A esse respeito, ela resgata o Teorema de Bell, da física quântica, que diz que a comunicação independe de espaço e tempo, podendo acontecer em qualquer lugar e momento. Assim se dá com as ligações do Espírito ao corpo físico, que podem acontecer no útero da mãe ou em laboratório.
Ainda assim, ela ressalta um ponto fundamental para a criação da vida: a vontade divina. “O homem já gastou milhões para tentar criar uma vida em laboratório e não conseguiu absolutamente nada até agora. Por que insistimos em interferir em algo que desconhecemos? Fazemos medicina para Deus, por isso não interferimos na vida que é obra exclusiva de Dele”.
Aborto de anencéfalos
A médica Marlene Nobre trouxe, ainda, informações esclarecedoras sobre o aborto de anencéfalos. Ela explica, cientificamente, que o projeto Genoma Humano mostrou que os genes não carregam as características de um ser. Conta, ainda, que o médico integrante desse projeto, o doutor Francis Collins, disse, na época, que “é uma falácia crer na ideia que as características estão impressas no genoma humano”.
Sobre a formação do encéfalo no feto, ela diz que cada caso é um caso, “não podemos colocar tudo numa mesma medida”. Pesquisas científicas mostram que, em casos de anencéfalos, existe no feto estrutura de encéfalo, que é o tronco cerebral alto, em porções variáveis dependendo do caso. O médico Wilder Penfield, em seu livro “O mistério da mente” (1983), mostra que o indispensável substrato da consciência não está no córtex cerebral, que é a parte que não se forma no anencéfalo. A mente está no tronco cerebral alto e, segundo ele, o córtex seria necessário para a exteriorização do conteúdo da mente.
Considerando os ensinamentos espíritas, Marlene nos conta a seguinte história: “Imagine que você ama imensamente um espírito que cometeu suicídio com um tiro que lhe esfacelou o cérebro. Esse Espírito está agora num estado lastimável no mundo espiritual e você então roga a Jesus por uma oportunidade de reencarnação para ele. Você sabe que ele será um anencéfalo, mas, o que vai acontecer com ele? Ele terá a chance de refazer seu perispírito com essa reencarnação e você está muito feliz com isso. Você, que ama esse Espírito, deseja vida longa a essa mãe que o recebeu, enquanto os homens dizem: morte ao anencéfalo”.
Por fim, ela nos lembrou a palavra de Chico Xavier, “Aborto é um delito grave para a Providência Divina. A vida não nos pertence, mas, sim, ao poder divino”.
A palestrante terminou sua explanação sendo aplaudida de pé pelo público presente. “Ela nos trouxe uma visão médica sobre o assunto, o que nos ajuda a entender melhor a questão da vida e não ficarmos só na especulação”, diz o jovem Alberto Valim. A servidora pública Renata de Andrade é objetiva: “Foi maravilhosa a palestra. Foi muito boa a abordagem científica desconhecida pela gente. Isso só reforça nossa opinião contrária ao aborto”.
Painel reúne palestrantes no 2º Congresso Espírita do DF
Preocupados com a aprovação da lei que permite o aborto de anencéfalos, os jovens perguntaram à Marlene Nobre(foto): o que nós podemos fazer em defesa da vida? A médica respondeu que, mesmo não sendo adultos, podem e devem engajar-se em todas as frentes de trabalho. Participar e promover eventos com esse tema em suas casas espíritas, organizar palestras, seminários, debates. “Vestir a camisa no Brasil com amor, sem aborto”, desabafou. Marlene questionou a falta de políticas públicas para as mães com gestações complicadas. “Onde estão os psiquiatras e psicólogos para ajudarem a mãe que decide levar a gravidez de um filho anencéfalo até o final? Eu acredito na medicina de misericórdia que vai em busca dessa mulher”. Para ela, a vida é um bem indisponível, um bem que nos foi outorgado. “Não podemos romper esse laço com o Criador, com o universo. Deus tem projetos e temos que respeita-los”, disse.
Painel reúne palestrantes no 2º Congresso Espírita do DF
Por Lea Cunha
fotos: Luis Silva Santos
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