O “setembro amarelo” foi criado em 2014 por uma proposição do Centro de Valorização da Vida (CVV) no Brasil, com apoio da Associação Brasileira de Psiquiatria e do Conselho Federal de Medicina, como uma campanha de prevenção ao suicídio.
A Organização Mundial de Saúde já havia definido o dia 10 de setembro como o dia mundial de conscientização sobre o suicídio, com a compreensão de que a grande maioria dos auto extermínios pode ser prevenidos, ou melhor que 9 em cada suicídio podem ser prevenidos, se assistidos a tempo e com recursos adequados.
No mundo, a cada 40 segundos uma pessoa se mata e as estatísticas oficiais dizem que o número de tentativas é de oito a dez vezes maior. No Brasil, os dados levantados falam que 32 pessoas se matam por dia, um número bem superior às vítimas do vírus HIV e de muitos cânceres no país.
Os trabalhos científicos mais importantes demonstram que aproximadamente 75 % das pessoas que se matam estavam numa crise de depressão, que é um transtorno que pode ser tratado, se diagnosticado adequadamente e se buscar ajuda especializada.
Diante de tais dados, chegou-se a conclusão de que o melhor remédio para a prevenção é falar com clareza sobre o tema, mas fugindo de todo sensacionalismo, pois até então ele é um mal silencioso, porque a maioria das pessoas prefere negar até pensar no assunto e, com isso, impede ao mesmo tempo ver os sinais e sintomas e trabalhar a prevenção.
Há algum tempo, percebeu-se que a divulgação de casos de auto extermínio estimulava outras pessoas, já adoecidas, a repetirem os mesmos atos. Por isso, a imprensa evita este tipo de noticiário, exceto em casos que envolvem personalidades públicas, onde não é possível esconder os fatos. Talvez por isso muitos preferiram a se calar, evitando o enfrentamento e abrindo o espaço para ações levianas, permitindo que a situação se agrave.
Estatísticas mundiais levantam que jovens adultos e idosos são os que mais tentam e conseguem o êxito letal. No entanto, este segundo grupo é geralmente confundido com mortes acidentais. Vem crescendo o número de tentativas e de suicídios nas populações mais jovens.
Uma questão que dificulta as estatísticas é a postura de muitas famílias, onde os familiares, chamados atualmente de “sobreviventes”, camuflam a situação, para que a morte seja considerada acidental, evitando medidas burocráticas constrangedoras e preconceitos que só agravam o problema.
Um dos maiores preconceitos é de que a pessoa que quer realmente se matar não avisa. Ao contrário, o ditado: “cão que late não morde” não é verdadeiro para os suicidas. A grande maioria deles avisa de alguma forma, muitas vezes são os nossos ouvidos que não estão atentos.
É importante lembrar que o suicídio é uma ação contrária à lei divina de consequências muito graves, causando reações que podem comprometer a vida da criatura por diversas encarnações. Dentro dessa perspectiva, o trabalho de valorização da vida é fundamental. Nesse sentido o espiritismo pode auxiliar de maneira profunda tanto os que vivem diretamente este desejo de se matar, os familiares e aqueles que desencarnaram nesta postura, pelos princípios que abraça e pela própria terapêutica complementar espírita.
A visão espírita do após morte esclarece a condição pela qual passa a vítima de si mesmo, afastando muitos de tal desatino, apóia as famílias ou sobreviventes, pois ao contrário de muitas religiões ortodoxas abre um campo de esperança e reparação, através do conhecimento da reencarnação e do entendimento da misericórdia divina.
No entanto, não é incomum que divulgadores e adeptos do espiritismo insistam em se expressar que se está diante de um crime não auxiliando, ao contrário agravando a condição íntima dos suicidas e dos sobreviventes.
Os trabalhos científicos mostram que é fundamental estar atento para as falas daqueles que dão sinais de desespero diante de suas dores e se posicionar com integral disponibilidade para auxiliar. No caso de se sentir incapacitado para tal, o doente ou quem se propõe a auxiliá-lo deve buscar ajuda especializada, evitando transtornos maiores.
Existem sinais, condições sociais , doenças e posturas pessoais que podem determinar a maior ou menor gravidade. Buscar assistência profissional ou de pessoas preparadas (como os voluntários do CVV ) pode mudar o rumo das ações, transformando posturas infelizes em atos de coragem para dignificar à vida, o dom maior que Deus nos deu.
É de suma importância que as instituições de saúde e, em especial, aquelas vinculadas ao espiritismo assumam tal campanha promovendo palestras, seminários e divulgação de panfletos e orientações sobre o assunto, com o cuidado de sempre combater a ação impetuosa e feliz de buscar se matar, mas com o respeito e acolhimento devido ao doente, seguindo os passos do Mestre Jesus e de Maria, sua mãe e que se fez mãe de toda a Humanidade, que com sua legião de trabalhadores recebe, acolhe e ampara as vítimas deste desatino, dando-lhes força e esperança para novas caminhadas.
Roberto Lúcio Vieira de Souza é vice-presidente da AME-Brasil