Conhecer para servir

Conhecer para servir

Por Paulo Rogério Dalla Colleta Aguiar ( Junho/2017)

 

Vivemos efetivamente numa época de grandes contrastes. A expressão humana do sagrado e do transcendente tem ocupado coordenadas antípodas: na imprensa leiga, a intolerância do terrorismo; nos periódicos científicos, o crescente impacto de evidências positivas entre saúde e espiritualidade.
Nesse mês em que a AME-Brasil promove seu grande encontro bienal, detenhamo-nos na análise promissora dos dados de pesquisa. Na revista Gerontologist, em publicação deste ano, pesquisadores da Universidade de Ontário, no Canadá, apresentaram uma revisão sistemática cobrindo os últimos 26 anos de pesquisa acadêmica sobre espiritualidade e cognição, mostrando que 82% dos estudos apontam para um efeito protetor da espiritualidade no declínio cognitivo na idade adulta e na velhice(1). Em outro estudo, realizado com veteranos de guerra nos EUA, com mais de três mil participantes, os autores encontraram um fenômeno de “efeito dose-resposta”: quanto maior o nível de espiritualidade, maior o efeito protetor contra doenças mentais como transtorno de estresse pós-traumático, depressão maior e transtornos decorrentes do uso de álcool(2). Noutra revisão sistemática que se propôs a investigar as evidências de literatura dos últimos 20 anos acerca da associação entre religiosidade e felicidade, os pesquisadores concluíram pela associação positiva entre as variáveis na grande maioria dos estudos, independente de religião, gênero, nacionalidade ou raça(3).
Uma das precípuas missões do movimento médico-espírita é, sob o amparo das claridades da Doutrina Espírita, promover e divulgar pesquisas científicas em torno das relações entre espiritualidade e saúde, abrindo caminhos para a evolução de paradigma. O natural desdobramento dessa consagração dos valores espirituais como inerentes a boa saúde, a partir da pesquisa e da investigação acadêmicas, é a promoção de movimentos transformadores e assistenciais: transformadores, porque não se poderá mais negligenciar o espírito como elemento ascendente sobre a organização fisiológica, com todas as implicações que isso trará a educação médica; assistenciais, porque urge materializar o conhecimento adquirido em mãos estendidas na direção dos necessitados. Nesse desiderato, vê-se as Ames também desempenhando projetos de escol: a capelania espírita em diversas instituições hospitalares Brasil afora, a assistência aos dependentes químicos e seus familiares em diversas casas espíritas, projetos relacionados a prevenção do aborto – seja na educação social em torno do tema, seja no anonimato do atendimento a casais que vivem esse conflito. Há ainda o combate ao suicídio, atividades de assistência médica gratuita, programas de assistência social, palestras educativas e consoladoras, etc.
Nesse mês tão especial, em que a família médico-espírita se reunirá na cidade do Rio de janeiro para estudar, aprender e confraternizar, que possamos renovar nossos votos de testemunho em prol da realidade maior, revigorados no entusiasmo pela causa abraçada. Rogamos a espiritualidade amiga e ao abnegado benfeitor Adolfo Bezerra de Menezes, que permita-nos cada vez mais adentrar os escaninhos do conhecimento celestial, para que melhor conhecendo, mais efetivamente possamos servir.
1. Hosseini S. Gerontologist. 2017 . The Effect of Religion and Spirituality on Cognitive Function: A Systematic Review.

2. Sharma V, et al. Affect Disord. 2017 Apr 11;217:197-204. Religion, spirituality, and mental health of U.S. military veterans: Results from the National Health and Resilience in Veterans Study.

3. Rizvi MA et al. J Relig Health. 2016. Relationship Between Religious Belief and Happiness: A Systematic Literature Review.

Paulo Rogério Dalla Colleta Aguiar é 2º tesoureiro da Associação Médico-Espírita do Brasil

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